18 abril 2008

Entrevista a James Nixey
Quem é Medvedev, o delfim de Putin?

Dmitry Medvedev é o novo presidente da Rússia, eleito com mais de 70 por cento dos votos. Com 42 anos este advogado e administrador da maior empresa russa, a Gazprom, é o mais novo líder russo e o sucessor escolhido por Vladimir Putin. Mas quem é o novo presidente russo e que desafios se lhe deparam? James Nixey, especialista em assuntos russos do Instituto Real de Relações Internacionais britânico, ajuda a traçar um cenário para a Rússia nos próximos quatro anos.

Quem é Dmitry Medvedev?
Dmitry Medvedev é o escolhido de Putin, o sucessor designado, o seu protegido. É o Presidente da Gazprom, a maior empresa russa, e é também vice primeiro-ministro. É um homem novo, advogado de formação. Não tem o passado do KGB de Putin, mas isso não significa necessariamente uma grande mudança. Vamos assistir a um acordo de continuidade entre Putin e Medvedev.

Continuidade parece ser a palavra-chave. O que devemos esperar de Medvedev na relação com o Ocidente?
Suspeito que o acordo entre Putin e Medvedev estabelece que não haverá mudanças radicais ou recuos de oito anos de putinismo. Portanto aquilo que veremos será uma retórica menos belicista do que a de Putin, que por vezes não consegue evitar fazer declarações agressivas anti-Ocidente. Isso não deverá ser o estilo de Medvedev, mas na substância a Rússia vai continuar a ser difícil de lidar para os países europeus e Estados Unidos.

Um dos assuntos mais delicados entre a Rússia e a Europa é a energia…
Ele [Medvedev] falou em liberalizar mercados e até agora o discurso sugere que vá ser menos propício a utilizar a energia russa como ferramenta política. Mas se não o fizer vai entrar em conflito com Putin, e isso é muito improvável. Portanto, suspeito que os problemas energéticos da Europa não vão desaparecer do dia para a noite porque mudou o nome de quem está no poder.

Em relação ao Kosovo, a Rússia reagiu com um apoio incondicional à Sérvia, pelo não reconhecimento. O Kosovo é importante para a Rússia?
Essa foi uma reacção emocional por parte dos russos. O Kosovo não é um lugar estrategicamente importante, mas os russos sentem-se traídos pelo Ocidente e vão continuar a reclamar. Dito isto, acho improvável — porque esta é uma situação que simplesmente perderam — que tentem esquecer por que isso os faz parecer fracos… Mas penso que o Kosovo é um assunto encerrado.

Rússia e Reino Unido têm tido vários incidentes diplomáticos. Como vê o caso Litvinenko, à luz deste novo presidente russo?
Esta é uma questão que o Governo britânico gostaria de esquecer, está muito ansioso para não irritar demasiado os russos. Mas ao mesmo tempo temos outros problemas nas relações entre Rússia e o Reino Unido. Não extraditámos certos exilados políticos que acolhemos em Londres, depois a situação com o British Council… Mas o caso Litvinenko/Lugovoi por si só não está a ser seguido de perto, porque é um embaraço para os dois países.

Ainda é cedo para falar nas relações futuras com os EUA, mas quem é que os russos preferem para a Casa Branca?
Medvedev já disse que vai trabalhar com quem quer que vá para a Casa Branca em Novembro, mas isso não é inteiramente convincente porque John McCain, o candidato líder dos Republicanos, tem posições muito mais agressivas face à Rússia do que os candidatos Democratas. Ele sugeriu, por exemplo, que a Rússia deveria deixar o G8 porque não é uma democracia… Penso que comentários desses não serão bem-vindos na Rússia e os russos esperam um democrata na Casa Branca. (fim)

RR em 03Mar2008. Áudio indisponível.

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