25 março 2009

Indústria
Fábrica da Blaupunkt não vai despedir, apesar do fim dos auto rádios
Não haverá despedimentos na fábrica da Blaupunkt em Braga, onde trabalham cerca de duas mil pessoas. Depois do negócio dos auto-rádios aquela unidade vai ser reestruturada e passar a produzir componentes para sistemas de aquecimento e electrodomésticos.

A garantia é do novo Presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso Alemã, João Paulo Oliveira, que afirma estar pronto para “tentar suportar o processo de garantia das empresas alemãs em Portugal”, que hoje enfrentam desafios à deslocalização.

Este administrador do Grupo Bosch no nosso país rejeita que a fábrica da Blaupunkt, uma das cinco unidades do grupo, esteja em perigo de encerrar, até porque se mantém com resultados positivos. “O negócio dos auto rádios mudou e vamos desactivá-lo, mas na fábrica de Braga já estão outros negócios”, como sistemas electrónicos para os ramos das caldeiras e esquentadores e também dos electrodomésticos. “Não se vislumbram, por isso, despedimentos”, afirma.

Sobre a Quimonda, o Presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso Alemã considera que o futuro da empresa “depende de uma solução para a casa mãe e que não passa por Portugal”. João Paulo Oliveira não quer ser “demasiado optimista”, mas assegura que a Câmara dará o seu contributo para manter a unidade de Vila do Conde.

Essa é aliás a missão da Câmara a que preside e o principal objectivo do seu mandato, que hoje começa. João Paulo Oliveira admite que algumas empresas alemãs “estão na berlinda”, mas diz-se preparado para tentar “suportar o processo de garantia das empresas em Portugal”. (fim)

RR em 25Mar2009

13 março 2009

Contestação social
Manifestações aumentam 43 por cento

Nos últimos 3 anos, o número de manifestações no país aumentou 43%. Só em Lisboa houve mais de 500 registos em 2008. Entre 2006 e 2008 as manifestações só diminuíram em Coimbra.

Manifestações de professores, vigílias contra o fecho de urgências hospitalares, protestos contra portagens em SCUTS e contra despedimentos na indústria. Em três anos o número de manifestações no país aumentou 43%.

De acordo com os dados recolhidos pela Renascença junto dos governos civis do continente, de 530 avisos de manifestações registados em 2006 passou-se para mais de 750 em 2008, o que dá uma média de duas manifestações por dia. No total dos três anos registaram-se 1964 manifestações.

Em Braga as manifestações mais do que duplicaram (de 19 em 2006 para 51 em 2008), em Aveiro aumentaram sete vezes (de 4 para 28), no Porto duplicaram (de 28 para 56) e em Lisboa cresceram 28% (de 411 para 529). Coimbra é o único distrito onde, nos últimos três anos, o número de manifestações diminuiu (de 12 para 4).

No ano passado — e excluindo Lisboa e Porto —, Braga (51 registos), Aveiro (28 registos) e Guarda (20 registos) foram os distritos onde as populações mais se manifestaram.

Na Guarda, recorde-se, além das manifestações contra os despedimentos na unidade da Delphi, os principais focos de contestação nos últimos três anos foram o encerramento de urgências e da maternidade do hospital da cidade.

Aveiro foi palco de vários protestos contra os despedimentos na Yazaki Saltano e Braga, além de um protesto que reuniu no ano passado 3.500 professores do Minho, houve também vários protestos contra as portagens na auto-estrada A28.

Manifestações quase exclusivamente a Norte

Olhando para o mapa do país, a Sul do Tejo apenas tiveram lugar 4% do total das manifestações (84) e a Norte do Mondego concentraram-se 18% (362). Sem surpresa, Lisboa e Porto somam 81% das ocorrências, embora com uma grande diferença: 1504 registos em Lisboa contra 103 no Porto.

A contestação parece, aliás, ser quase um exclusivo do Centro e Norte do país. É que os seis distritos a Sul do Tejo representam apenas quatro por cento do total das mais de 1900 manifestações registadas em três anos. Em 10 distritos houve menos de 10 manifestações em 2008. (fim)

RR em 13Mar2009

Os dados apresentados referem-se apenas às manifestações que tiveram lugar nas cidades capital de distrito. A informação foi recolhida junto dos governos civis dos 18 distritos do território continental e o pedido referia-se ao número de manifestações comunicadas àquele organismo nos anos de 2006, 2007 e 2008. Em 18 pedidos obtivemos 16 respostas. Évora nunca respondeu ao pedido de informação da Renascença e Leiria não dispunha dos dados. Viseu apenas possuía informação relativa a 2008.

08 março 2009

PS
Socialistas não cumprem quotas
O novo Secretariado Nacional do PS, eleito este domingo, Dia Internacional da Mulher, não respeita a quota mínima de 33 por cento de membros de cada sexo. Entre 11 elementos estão apenas três mulheres.

De acordo com o artigo 116º dos Estatutos do partido, os órgãos partidários e as listas a votação para esses órgãos “devem garantir uma representação não inferior a um terço de militantes de qualquer dos sexos”. Mas três mulheres entre os 11 lugares electivos do Secretariado correspondem a uma quota de 27 por cento. Com mais uma mulher a quota subiria para 36 por cento.

Vitalino Canas, porta-voz do PS, rejeita qualquer incumprimento dos Estatutos e diz que “a regra interna das quotas” é “cumprida integralmente”. Vitalino acrescenta que “em relação ao órgão executivo [o Secretariado Nacional], na nossa perspectiva as quotas também são preenchidas”.

Nos Estatutos está escrito que a representação de um terço de militantes de qualquer dos sexos só é dispensada em “condições excepcionais de incumprimento como tal caracterizadas pela Comissão Nacional”. Mas aos jornalistas e perante várias perguntas nesse sentido, Vitalino Canas não esclareceu se esta foi declarada uma situação excepcional.

Duas secretárias de estado e uma eurodeputada

As mulheres que compõem o Secretariado Nacional do PS hoje eleito são Ana Paula Vitorino, secretária de Estado dos Transportes, Idália Moniz, Secretária de Estado Adjunta e da Reabilitação, e Edite Estrela, eurodeputada, que já integravam este órgão. Do anterior secretariado fazia parte Maria Manuela Augusto, deputada em situação de suplente, e reeleita em Fevereiro no cargo de Presidente do Departamento Nacional das Mulheres Socialistas.

Uma novidade neste órgão executivo do PS é André Figueiredo, chefe de gabinete de José Sócrates no partido, deputado municipal em Seia e vice-presidente da federação do PS da Guarda.

Edmundo Pedro na Comissão Nacional

Na reunião da Comissão Nacional do PS este domingo foi também eleita a Comissão Política, para a qual entraram o ex-ministro da Saúde, Correia de Campos, a candidata à Câmara de Setúbal, Teresa Almeida, e autarca da Guarda, Joaquim Dias Valente.

Edmundo Pedro foi eleito para a Comissão Nacional e Vieira da Silva, ministro do Trabalho, para coordenar o processo eleitoral do partido nas europeias, legislativas e autárquicas. (fim)

com JD - RR em 08Mar2009

02 março 2009

XVI congresso do PS — comentário
Uma encenação vazia de política

A campanha eleitoral do PS começou este fim-de-semana em Espinho, no congresso do partido, um encontro que teve mais de comício do que de congresso.


José Sócrates teve o seu momento de aclamação neste congresso do PS, em Espinho, onde nada foi verdadeiramente discutido. Entre três moções gerais e algumas dezenas de moções sectoriais, nenhuma foi formalmente apresentada, à excepção daquela que Sócrates subscreve e que foi aprovada com mais de mil votos favoráveis e um voto contra. Discussão, nem vê-la.

O secretário-geral foi elogiado por todos os lados, gabado várias vezes pelo presidente Almeida Santos — “o partido merece um líder assim” —, celebrado pelos seus camaradas ditos notáveis, solenizado pelos delegados e militantes de base. É o culto do chefe. Descendo à terra, houve até quem andasse a pedir autógrafos aos homens do partido: Edite Estrela e Augusto Santos Silva foram os primeiros.

A massa socialista chamada a este congresso esteve deslumbrada, apática e desinteressada, aparte os aplausos. Nas intervenções de três minutos, quase impecavelmente intercalando meia dúzia de anónimos e um notável, houve casos sofríveis e discursos que, parecendo encomendados, nem precisavam sê-lo. No púlpito a massa socialista agradece as auto-estradas — as SCUT, entenda-se, que são à borla — que “foram eles que lançaram” e acredita na campanha negra: uma delegada foi ler uns papelinhos e dizer que a crise no sector da comunicação social, com os despedimentos recentes, dita as notícias difamatórias só para vender jornais.

A julgar pela amostra militante, Sócrates vai capitalizar junto do povo a vitimização e as ignomínias em votos. O próprio atacou os jornalistas no discurso de abertura do congresso; frente às câmaras de televisão, Arons de Carvalho foi chamado a complementar e acusar directamente o Público e a TVI; quando intervieram António Costa, Santos Silva, Paulo Pedroso, Ana Gomes, Silva Pereira e tantos outros não se esqueceram de recordar e atacar os orquestradores da campanha, tão negra que culminou no apagão de sábado à noite que obrigou a interromper os trabalhos mais cedo.

Os 1.700 delegados foram escolhidos, bem ou mal, com um propósito: encenar o início da campanha eleitoral. E a “campanha negra” serve o propósito de pedir a maioria absoluta para que Portugal possa ser governado em “estabilidade”, lançando o fantasma da ingovernabilidade ou da indisponibilidade de Sócrates em caso de minoria, aliada àquela lógica perpetuada de que só com maioria se consegue um governo eficaz neste país. Nunca pensei que a democracia fosse um entrave à governação.

Os críticos do partido queixam-se de unanimismo que grassa no PS e as ausências de Alegre e Cravinho ainda entusiasmaram os jornalistas, mas só os jornalistas. Eu não percebo porquê. Num congresso onde não há discussão absolutamente nenhuma, que falta fazem dois militantes desalinhados e críticos da liderança?

A escolha de Vital Moreira para encabeçar a lista do PS às eleições europeias surpreendeu. O professor de Coimbra não milita, ele próprio se afirmou “socialista freelance”, mas é tido como uma figura da esquerda e um homem das ideias e defensor das liberdades e garantias. Uma aproximação à esquerda, pode dizer-se. Mas será um candidato agregador?

No encerramento do congresso José Sócrates deixou um recado a Cavaco Silva: as eleições autárquicas devem realizar-se isoladamente. De resto, Sócrates deu a escolher aos portugueses: “Querem manter o rumo reformista ou regressar ao passado? Querem dar condições de estabilidade e governabilidade?” A campanha começou. Vemo-nos em Outubro. (fim)